A Canção de Tróia de Colleen McCullough


Ocorrida há milhares de anos, provavelmente entre 1300 a.c. e 1200 a.c., a guerra de Tróia alimenta o nosso imaginário até hoje, e suscita curiosidade. Homero relata parte desta guerra na Ilíada (Ilíada remete para “Ílio” ou “Ílion” referente a Tróia), mas esta obra apenas descreve pormenorizadamente os últimos 2 meses da guerra, que no total durou 10 anos. Para conhecermos toda a história, temos de recorrer a outras fontes.
A Canção de Tróia de Colleen McCullough é um excelente recurso para quem quer conhecer esta história a fundo sem ter de ler toda a bibliografia sobre o assunto. Tal como em romances históricos, a guerra de Tróia entre gregos e troianos é aqui reconstruída de forma romanceada, com base em pesquisas da autora sobre este acontecimento. Foi bem interessante, além de ter a história narrada sob os diversos pontos de vista dos seus intervenientes (Aquiles, Helena, Menelau, Agamemnon, Príamo…), ter mapas no início do romance que ajudaram bastante na visualização dos diversos locais onde decorre o enredo.
Também aqui vamos ter referências mitológicas relacionadas com esta história, mas parte dessas referências não foram bem explicadas. A principal que poderia ter sido mais explorada, a meu ver, seria o episódio do julgamento de Páris que escolheu Afrodite como “a mais bela”, inscrição da maçã de ouro lançada por Eris, a deusa da discórdia. Em troca, Afrodite concedeu a Páris o amor da mulher mais bela do mundo, Helena.


Helene Paris David
O amor de Helena e Páris, quadro de Jacques-Louis David [Domínio Público], via Wikimedia Commons

Foi por isso que Helena se apaixonou pelo troiano Páris, fugindo com ele, dando o pretexto aos gregos para declarar guerra a Tróia. Na Canção de Tróia de Colleen McCullough, fica evidente que o principal motivo que levou a esta guerra foram os interesses comerciais que os gregos tinham no Helesponto, o estreito marítimo que dava acesso a uma região que lhes permitia obter metais valiosos para a construção de armas, entre outros objectos.
Devo dizer que as minhas leituras da antiguidade clássica ainda são muito poucas, mas suspeito que a autora tenha alterado alguns acontecimentos em relação ao que nos é contado pelos clássicos, o que eu lamento. Por exemplo, segundo o Dicionário de mitologia grega e romana de Mário de Gama Kury, Ifigénia quando estava para ser sacrificada causou comoção em Ártemis, que a substituiu por uma corça. Além disso, quando li a Ilíada, não me lembro de a cólera de Aquiles em relação a Briseida fazer parte de um plano de Ulisses. Segundo a visão de McCullough, Aquiles é um herói sobrestimado. Homero havia-me mostrado um Aquiles como um homem de humores bem mais humanos (apesar de ser filho de uma ninfa), e real. A sua birra em não querer combater por causa de Briseida, e a forma como tratou Heitor, não sendo típicos de um herói perfeito, deu muito mais piada à Ilíada…
Mesmo assim, para quem deseja ter um primeiro contacto com os personagens dos clássicos, este é um livro que recomendo, por ser bastante abrangente e de fácil leitura.

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